Para muitas pessoas detox é sinónimo de perder peso, para outras é um processo de depuração e provavelmente existirá quem não sabe bem o que é, mas acha graça aos sumos de propriedades milagrosas que eliminam gorduras, toxinas e mau olhado!

Sim, existem toxinas e sim, podemos ajudar o nosso corpo a livrar-se destes componentes indesejáveis. Mas felizmente os processos naturais de eliminação são bastante eficientes e correm 24h/dia. Lamento por isso informar que as dietas da moda à base de sumos verdes e afins não têm qualquer suporte científico e muitos dos supostos benefícios estão altamente exagerados.

Vamos Falar de Toxinas

Todos os dias somos exposto a inúmeros compostos químicos que, se não filtrados e expelidos pelo nosso corpo, podem causar alguns problemas de saúde como desequilíbrios hormonais, variações de peso, perturbações mentais, doenças da pele ou doenças autoimunes.

Felizmente o nosso corpo trabalha 24h/dia de forma eficiente para garantir que os níveis acumulados de substâncias tóxicas não atingem um nível crítico. Mas é uma guerra que estamos lentamente a perder, à medida que aumenta a poluição atmosférica, se abusa do uso de plástico e somos inundados por centenas de compostos químicos que ingerimos em comidas processadas ou aplicamos directamente na pele (que absorve as toxinas para a corrente sanguínea em 26 segundos).

Já olharam para os ingredientes dos produtos cosméticos e de higiene pessoal? Se possível devemos utilizar produtos orgânicos e tentar evitar os seguintes compostos:

⛔️ Parabenos: shampô, condicionador, maquilhagem, cremes de barbear
⛔️ Lauril sulfato de sódio: shampô, gel de banho, pasta de dentes
⛔️ Alumínio: desodorizante
⛔️ Ftalatos: produtos de cosmética

Uma chamada de atenção para 2 toxinas invisíveis:

Radiação electromagnética, em especial a emitida pelo telemóvel. Se possível, tentar manter o aparelho afastado do corpo e não o deixar na mesa de cabeceira à noite (ou ligar modo de avião).
Stress, que se experienciado de forma crónica contribui para a degradação geral da saúde.

Apesar de existirem estudos científicos que atestam a suposta “segurança” de algumas das toxinas referidas, a verdade é que se desconhece o efeito a longo prazo na saúde humana. Infelizmente só quando os efeitos se tornam demasiado óbvios é que se cria a regulamentação para os proibir. Veja-se o caso do pesticida DDT, que tanto mal fez e que apesar de estar proibido na Europa desde 1978 continua a estar presente nos solos e oceanos.

Como Reduzir a Exposição a Toxinas

Mais importante que fazer um detox é, em primeiro lugar, evitar a acumulação de toxinas no nosso corpo. Confira as seguintes dicas para reduzir a exposição a estes elementos nocivos:

Escolher alimentos biológicos sempre que possível
Limitar a ingestão de alimentos processados
Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas
Eliminar o uso de recipientes de plástico para alimentos
Cozinhar os alimentos a temperaturas mais baixas
Dar preferência a produtos de higiene e beleza orgânicos
Não guardar o telemóvel junto ao corpo
Não dormir com o telemóvel na mesa de cabeceira
Utilizar filtros de água (no chuveiro e para consumo)
Não utilizar amaciador na lavagem da roupa
Limitar o consumo de peixe contaminado com mercúrio
Evitar a acumulação de bolores e mofos em casa

Processos Fisiológicos

O nosso corpo tem um sistema de detox natural que trabalha ininterruptamente para se livrar de compostos indesejados. O orgão central de toda a operação é o fígado, que recebe as toxinas provenientes do sistema gastrointestinal (o que ingerimos), dos pulmões (o que respiramos) e da pele (produtos de higiene e beleza que aplicamos).⠀

O fígado realiza uma limpeza em 2 fases: primeiro decompõe as toxinas em compostos mais simples e numa segunda fase neutraliza-os, tornando-os inertes e solúveis em água. Os resíduos resultantes são então expelidos pela respiração na forma de vapor de água, pelo suor através da pele, na urina e nas fezes.

Existe ainda uma via adicional por onde os resíduos podem ser encaminhados: armazenados no tecido adiposo (células gordas). Não é de todo desejável que isto aconteça, mas devido ao elevado número de compostos químicos que o nosso corpo desconhece e não está preparado para se livrar deles, estes acabam numa espécie de aterros sanitários naturais que são as nossas células gordas. Esta é uma das razões porque pessoas que perdem peso muito rapidamente podem ter alguns sintomas inexplicáveis, que são na realidade as toxinas acumuladas na gordura a serem libertadas.

Coisas que realmente funcionam

Vamos então falar de coisas que realmente funcionam para fazer um detox. Tal como já referimos, o orgão central de filtração é o fígado, que depois trabalha em conjunto com os rins, intestino, pele e pulmões para expelir as malditas toxinas através da urina, fezes, suor e vapor de água.

Como podemos ajudar este complexo sistema de eliminação?

👟 Actividade física: o movimento em geral melhora o fluxo do sistema linfático. Além disso o suor é um dos caminhos de saída das toxinas.

⏰ Jejum intermitente: um jejum de 12-14h durante o período da noite dará um descanso ao sistema gastrointestinal e providenciará as condições para o nosso sistema natural de detox trabalhar com a máxima eficiência.

💤 Dormir bem: altamente crítico para o processo de detox, particularmente para a saúde do cérebro. Link na bio com dicas para dormir melhor.

🧘‍♀️ Meditação: não, não é complicado, nem difícil. Exercícios básicos de respiração contribuem para reduzir o stress, uma das toxinas invisíveis.

💧 Hidratação: como freferimos anteriormente, os resíduos libertados pelo fígado são solúveis em água e eliminados pela respiração, suor, urina e fezes. Manter uma hidratação adequada ajuda em todos os caminhos de saída das toxinas.

🥑 Nutrição adequada: O fígado necessita de uma série de nutrientes para executar o seu trabalho: vitaminas, minerais e fitonutrientes. Uma boa dieta detox, uma que resulta mesmo, é a que fornece todos estes compostos essenciais.

Suplementos que Ajudam

Por favor não vão a correr comprar suplementos. Sim, é verdade que o nosso corpo pode beneficiar de uma ajuda extra, nomeadamente no aporte dos nutrientes essenciais ao processo de desintoxicação efectuado pelo fígado, tais como as vitaminas B e C ou magnésio. Mas a principal fonte deve ser SEMPRE uma dieta rica e equilibrada.

Alguns dos suplementos listados (clorela, carvão activado, d-glucarato de cálcio) têm um efeito quelante, isto é, têm a capacidade de se fixar aos metais pesados, como o mercúrio, formando um complexo (quelato), solúvel e não tóxico que pode depois ser eliminado pelas vias normais do nosso corpo.

Para o stress crónico, que também se pode considerar tóxico, a utilização de rhodiola e ashwagandha tem-se revelado bastante eficaz.

E não nos podemos esquecer de alguns suplementos naturais que podemos facilmente incluir na nossa alimentação: alho, cebola, coentros, chá de cardo-mariano e curcuma.

Concluindo, os suplementos podem ser úteis ao processo natural de detox, mas devem ser usados com moderação e, preferencialmente, sob a orientação de um profissional competente nesta matéria.

Como Medir e Avaliar

Como saber se realmente precisa fazer um detox?

Muita gente acha que depois dos excessos das festividades é necessário fazer um protocolo de limpeza. E se uns jejuns ou uns batidos verdes não fazem propriamente mal, já vimos que a limpeza de toxinas é um processo um pouco mais complexo.

O aumento de peso por comer demasiado não é um sintoma de acumulação de toxinas. Os sintomas mais comuns nestes casos são inchaço permanente, insónias, ansiedade, reacções autoimunes, tonturas, entre outros.

A melhor forma de saber será sempre medir. Para o fazer há 2 exames que recomendamos:

🧪 Mineralograma do cabelo: através da análise de uma pequena quantidade de cabelo é possível saber a acumulação de metais pesados, mas também os níveis dos minerais essenciais.

🧪 Análises clínicas: para além de biomarcadores relacionados com inflamação, é possível aferir a quantidade de metais pesados que circulam no sangue e que são expelidos pela urina.

Um profissional que siga uma abordagem funcional e integrativa poderá aconselhar quais os melhores exames a efectuar e posteriormente interpretar os resultados. Fale connosco!

Métodos Avançados

Que outros métodos existem para fazer um detox?

⚠️ A eficácia de alguns destes métodos não está ainda cientificamente comprovada. Ainda assim existem diversos indícios dos seus benefícios, pelo que resolvemos incluí-los nesta publicação.

Para além das recomendações já referidas anteriormente, existem outros métodos que podem ajudar o corpo a libertar-se de toxinas:

1️⃣ Sauna: há muito que são conhecidos os seus diversos benefícios. Fomenta a transpiração, um dos caminhos de saída de elementos tóxicos.

2️⃣ Enemas de café: desde que administrado correctamente, um enema de café contribui para a limpeza do colón e a expulsão de toxinas.

3️⃣ Panchakarma: é uma série de tratamentos ayurvédicos que contribuem para a limpeza geral do organismo e equilíbrio dos doshas.

4️⃣ Massagem a seco: utilizando uma escova é possível efectuar movimentos de massagem que facilitem a circulação da linfa.

5️⃣ Saltar no trampolim: para além dos benefícios no sistema linfático, saltar num trampolim regularmente tem inúmeros benefícios para a saúde e bem-estar geral.

6️⃣ Ozonoterapia: existem diversos indícios que funciona como estimulador do sistema imunológico, melhoria da condição física e bem-estar, aumento da longevidade e tratamento da dor crónica.

7️⃣ Banho com sais de epsom e argila: tomar um banho de água quente extrai as toxinas através do suor. Depois, à medida que a água arrefece, os sais ou argila absorvem-nas.

8️⃣ Aplicação de óleo de rícino: um pedaço de flanela embebido em óleo de rícino, colocado na pele na zona do fígado pode ajudar este orgão no processo de desintoxicação.

Referências

[1] Klein, A V, and H Kiat. “Detox diets for toxin elimination and weight management: a critical review of the evidence.” Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association vol. 28,6 (2015): 675-86. doi:10.1111/jhn.12286

[2] Yaribeygi, Habib et al. “The impact of stress on body function: A review.” EXCLI journal vol. 16 1057-1072. 21 Jul. 2017, doi:10.17179/excli2017-480

[3] Benjamin, Sailas et al. “Phthalates impact human health: Epidemiological evidences and plausible mechanism of action.” Journal of hazardous materials vol. 340 (2017): 360-383. doi:10.1016/j.jhazmat.2017.06.036

[4] Bortkiewicz, Alicja. “Health effects of Radiofrequency Electromagnetic Fields (RF EMF).” Industrial health vol. 57,4 (2019): 403-405. doi:10.2486/indhealth.57_400

[5] Klotz, Katrin et al. “The Health Effects of Aluminum Exposure.” Deutsches Arzteblatt international vol. 114,39 (2017): 653-659. doi:10.3238/arztebl.2017.0653

[6] Ma, Ya et al. “The adverse health effects of bisphenol A and related toxicity mechanisms.” Environmental research vol. 176 (2019): 108575. doi:10.1016/j.envres.2019.108575

[7] Jackson, Erin et al. “Adipose Tissue as a Site of Toxin Accumulation.” Comprehensive Physiology vol. 7,4 1085-1135. 12 Sep. 2017, doi:10.1002/cphy.c160038

[8] Murdock, Barbara Scott. “Tracking toxins. Biomonitoring outshines the indirect assessment of exposure in determining which pollulants enter the body, and whether they cause disease or disability.” EMBO reports vol. 6,8 (2005): 701-5. doi:10.1038/sj.embor.7400493

[9] Lee, Duk-Hee et al. “Neurotoxic chemicals in adipose tissue: A role in puzzling findings on obesity and dementia.” Neurology vol. 90,4 (2018): 176-182. doi:10.1212/WNL.0000000000004851

[10] Grant, D M. “Detoxification pathways in the liver.” Journal of inherited metabolic disease vol. 14,4 (1991): 421-30. doi:10.1007/BF01797915

[11] Xie, Lulu et al. “Sleep drives metabolite clearance from the adult brain.” Science (New York, N.Y.) vol. 342,6156 (2013): 373-7. doi:10.1126/science.1241224

[12] Palma, Lídia et al. “Dietary water affects human skin hydration and biomechanics.” Clinical, cosmetic and investigational dermatology vol. 8 413-21. 3 Aug. 2015, doi:10.2147/CCID.S86822

[13] Klika, Brett C.S.C.S., B.S.; Jordan, Chris M.S., C.S.C.S., NSCA-CPT, ACSM HFS/APT HIGH-INTENSITY CIRCUIT TRAINING USING BODY WEIGHT: Maximum Results With Minimal Investment, ACSM’s Health & Fitness Journal: May/June 2013 - Volume 17 - Issue 3 - p 8-13
doi: 10.1249/FIT.0b013e31828cb1e8

[14] Zota, Ami R et al. “Reducing chemical exposures at home: opportunities for action.” Journal of epidemiology and community health, vol. 71,9 937–940. 29 Jul. 2017, doi:10.1136/jech-2016-208676

[15] Lushchak, Volodymyr I. “Glutathione homeostasis and functions: potential targets for medical interventions.” Journal of amino acids vol. 2012 (2012): 736837. doi:10.1155/2012/736837

[16] Anghelescu, Ion-George et al. “Stress management and the role of Rhodiola rosea: a review.” International journal of psychiatry in clinical practice vol. 22,4 (2018): 242-252. doi:10.1080/13651501.2017.1417442

[17] Salve, Jaysing et al. “Adaptogenic and Anxiolytic Effects of Ashwagandha Root Extract in Healthy Adults: A Double-blind, Randomized, Placebo-controlled Clinical Study.” Cureus vol. 11,12 e6466. 25 Dec. 2019, doi:10.7759/cureus.6466

[18] Sears, Margaret E. “Chelation: harnessing and enhancing heavy metal detoxification--a review.” TheScientificWorldJournal vol. 2013 219840. 18 Apr. 2013, doi:10.1155/2013/219840

[19] Izzo, A A et al. “Eating garlic and onion: a matter of life or death.” British journal of cancer vol. 91,1 (2004): 194. doi:10.1038/sj.bjc.6601918

[20] Hodges, Romilly E, and Deanna M Minich. “Modulation of Metabolic Detoxification Pathways Using Foods and Food-Derived Components: A Scientific Review with Clinical Application.” Journal of nutrition and metabolism vol. 2015 (2015): 760689. doi:10.1155/2015/760689

[21] Rafati-Rahimzadeh, Mehrdad et al. “Current approaches of the management of mercury poisoning: need of the hour.” Daru : journal of Faculty of Pharmacy, Tehran University of Medical Sciences vol. 22,1 46. 2 Jun. 2014, doi:10.1186/2008-2231-22-46

[22] Uchikawa, Takuya et al. “Enhanced elimination of tissue methylmercury in Parachlorella beijerinckii-fed mice.” The Journal of toxicological sciences vol. 36,1 (2011): 121-6. doi:10.2131/jts.36.121

[23] Sears, Margaret E et al. “Arsenic, cadmium, lead, and mercury in sweat: a systematic review.” Journal of environmental and public health vol. 2012 (2012): 184745. doi:10.1155/2012/184745

[24] Cugusi, Lucia et al. “Effects of a mini-trampoline rebounding exercise program on functional parameters, body composition and quality of life in overweight women.” The Journal of sports medicine and physical fitness vol. 58,3 (2018): 287-294. doi:10.23736/S0022-4707.16.06588-9

[25] Sharma, Hari et al. “Utilization of Ayurveda in health care: an approach for prevention, health promotion, and treatment of disease. Part 1--Ayurveda, the science of life.” Journal of alternative and complementary medicine (New York, N.Y.) vol. 13,9 (2007): 1011-9. doi:10.1089/acm.2007.7017-A

[26] Vairo, Giampietro L et al. “Systematic review of efficacy for manual lymphatic drainage techniques in sports medicine and rehabilitation: an evidence-based practice approach.” The Journal of manual & manipulative therapy vol. 17,3 (2009): e80-9. doi:10.1179/jmt.2009.17.3.80E

[27] Smith, Noel L et al. “Ozone therapy: an overview of pharmacodynamics, current research, and clinical utility.” Medical gas research vol. 7,3 212-219. 17 Oct. 2017, doi:10.4103/2045-9912.215752

(Quase) Tudo Sobre Detox

de·tox